Relato Mediúnico de Thomas Edison

O LABORATÓRIO DE THOMAS EDISON NO ALÉM

Por fim, fui apresentado a Frederico Figner(1), e esse contato com ele não se dera por acaso: eu ouvira falar das experiências que Thomas Edison(2)  realizava ultimamente, visando estabelecer intercâmbio com os homens por meios físio-técnicos.

Aquilo me fascinava. Eu assistira na Alemanha a fenômenos psíquicos verdadeiramente extraordinários. Sobre alguns deles me fora fácil adotar uma posição tranquilamente jesuítica. Nas horas de “aperto”, o subconsciente vinha em nosso socorro em nome das ciências exatas e nossa consciência clerical ficava em paz, se não com Deus, pelo menos com o nosso comodismo escolástico.

Não renuncio de todas às minhas antigas convicções. Efetivamente, o homem possui em seu psiquismo certas zonas penumbrais, certas forças escondidas e inexploradas, que ainda farão dele o gigante que está destinado a ser. Hoje, porém, estou convencido de que não se pode estabelecer um limite rígido entre manifestações do além e as do aquém. Os médiuns não são objetos sujeitos à telecinésia; são seres humanos, verdadeiros turbilhões de forças ignotas que facilitam ou dificultam sua comunicação conosco.

Agora surgia diante de mim uma perspectiva nova: os dois planos de uma mesma vida poderão interpenetrar-se com o auxílio da técnica e sem as inconvenientes interferências anímicas.
Fred Figner

Ao ser apresentado a Frederico Figner, entabulei com ele longa conversação a respeito do inventor da lâmpada elétrica. Agora, segundo me afirmava, ele tinha frequentes contatos com o genial cientista e poderia aproximar-me dele para uma entrevista. Isto se deu pouco tempo depois do nosso primeiro encontro.

Viajei, sem necessidades de passaporte, para as terras da Califórnia e, nas esferas espirituais vizinhas à crosta, fui encaminhado ao laboratório de Edison.

Era uma sala espaçosa e iluminada, sem atrativos por fora mas palpitante de vida por dentro. Aparelhos os mais diversos abarrotavam o recinto. Alguns eu conhecia; outros, porém, me eram totalmente estranhos e me pareciam exóticos: formas piramidais ou afuniladas, microfones ligados a paredes, lâmpadas suspensas no ar a emitir variados sons, cujas modulações eram combinadas com as mais diferentes e cambiantes cores. Quase não havia cadeiras. Sentei-me em uma das poucas ali existentes e aguardei, curioso ao ouvir não só os sons emitidos pelas lâmpadas, como também os emitidos pelos trabalhadores do laboratório.

Eles cantavam notas, ora em voz baixa, ora em alto e bom som. Depois, essas notas eram como que reproduzidas pelas próprias paredes da sala. Não se tratava do fenômeno comum ao qual chamamos eco; era como se os sons se gravassem nas paredes e depois fossem reproduzidos à vontade – e misteriosamente, pelo menos para mim – graças à ação dos trabalhadores.

Decorrido algum tempo, vi, afinal, diante de mim o tão esperado Thomas Edison.

Apresentei-me e, para minha surpresa, ele se referiu a alguns dos meus livros. Como era possível que aquele homem tivesse conhecimento de minhas obras?

Ele sorriu e, para meu espanto, disse que eu era lido também no outro mundo.

Que responsabilidade!…

Mas meu interesse era em Edison, em suas tarefas, não em Delfos(3) e seus livros.

Humberto Rodhen (Delfos)

Iniciei a entrevista perguntando que aparelhagens eram aquelas e quais as suas finalidades.

– É difícil explicar-lhe – respondeu ele. – O que posso, por enquanto, dizer-lhe é qual o seu objetivo: estamos experimentando a manipulação do som. Pretendemos dominar e utilizar ondas sonoras para estabelecer comunicação mais concreta com o mundo físico.

– De que maneira se fará isso? – perguntei eu.

– Já se faz, pelo menos em parte. Quando desejamos comunicar-nos via rádios ou gravadores, aproveitamos toda a gama de sons guardados ou circulantes no ambiente.

– Guardados? – perguntei eu, mais para provocá-lo.

– Pensas que o som se perde? – respondeu ele. – Para além do ambiente físico existem, como tu sabes, registros onde estão arquivados, em cada ambiente, sons, imagens e até mesmo ideias e sentimentos. Aqui, estamos como que “fabricando sons” para depois adensá-los e condensá-los.

– Como será isso possível?

– Sabes que só há uma energia passível de todas as transformações. Assim como se pode congelar a energia luminosa, transformando-a em matéria opaca, também nos é possível fazer que a vibração sonora desça até o nível em que possa ser percebida pelo ouvido humano. O trabalho é árduo, mas já nos aproximamos da recompensa. Breve os homens poderão escutar-nos e ver-nos, sem grandes gastos de energia da parte dos médiuns.

– A propósito – interrompi, qual o papel dos médiuns em suas investigações?

– Quanto menos precisarmos deles, melhor – respondeu o gênio. – Os homens, quando desejam estratificar suas concepções, levam seus sofismas até as últimas consequências. Enquanto os médiuns forem indispensáveis no intercâmbio conosco, a teoria animista e materialista buscará sempre sobreviver, utilizando, na hora do naufrágio, a balsa ou o escapismo do inconsciente. É preciso, de uma vez por todas, desfazer essa falácia dos eternos negadores. E não estamos longe de conseguir. A própria eletricidade, ao lado de outras forças da Natureza, nos fornece os recursos necessários para dispensar os médiuns, quase por completo.

– Fale-me um pouco mais, por favor, dessa condensação do som; não me disse que, para o intercâmbio com os encarnados, são aproveitadas ondas sonoras circulantes ou guardadas no ambiente? Por que levar para o plano físico o som daqui?

Nesse campo, meu caro, queremos depender cada vez mais de nós e cada vez menos das pessoas e circunstâncias da Terra. Se conseguirmos produzir, por nós próprios, os sons que facilitam o nosso intercâmbio com os encarnados, comunicar-nos-emos com eles tão fluentemente quanto eles se comunicam entre si, através dos mil e um recursos da eletrônica.

– Há outros cientistas em sua equipe?

– Claro. Trabalho com Marconi(4) e Landel de Moura(5). Não sei se sabes, mas este também captou, em terras brasileiras, a noção da existência do rádio e do telégrafo sem fio.

Marconi e Landell

– Em contato com Figner, soube do seu atual interesse em buscar, não a descoberta de lâmpadas externas, mas o encontro de luz interior. Surpreendo-me, no entanto, aqui em seu laboratório empírico, visando comprovação das realidades do Espírito, através de efeitos físio-técnicos. Não haverá nisso uma certa contradição?

– Sabes mais do que ninguém, que a análise é o primeiro passo para a síntese e que o intelecto é a antecâmara da intuição. Do mesmo modo, a comprovação dos fatos é o impulso inicial para a percepção da realidade. Não queiras transformar homens em anjos de um momento para o outro. Eles perceberão por si mesmos que são Espíritos eternos, mas antes precisam despir a morte dos trajes horrendos com que a revestiram. Devem primeiro ser abalados pelo contato daqueles a quem julgavam mergulhados no nada ou beatificados num paraíso distante. Depois, sim, nascerão de novo pelo Espírito. Lembra-te passagem bíblica de Tomé? Jesus se deixou tocar pelo apóstolo e, em consequência, Tomé, o incrédulo, despertou para as realidades mais íntimas do seu ser.

Nossa entrevista poderia efetivamente acabar ali, tão soberbas e transcendentes eram as palavras de Edison; eu, porém, queria um pouco mais e o abordei, nestes termos:

– Até que ponto a teoria da relatividade favorece as suas experiências?

– Nem era preciso que me fizesse essa pergunta – respondeu ele, sorrindo. – Em todo caso, acrescento a tudo o que já viste, a informação de que o som a irradiar-se das lâmpadas não passa de transformação da energia luminosa em vibração sonora. Isto confirma um dos pressupostos einstenianos, segundo o qual, no mundo físico tudo vem da luz. Lembrando Hermes Trismegisto, digo-te que no mundo extra-físico as coisas também são assim.

Texto extraído da obra Meu Além Dentro e Fora

(Ed. Folha Carioca, 1988),

psicografada pelo médium Antônio Millecco

(cego de nascença).

Notas:

  1. Frederico Figner (1866-1946) nasceu pobre, e aos 15 anos migrou para os Estados Unidos, levando apenas o dinheiro para a travessia. Chegou ao país no momento em que Thomas Edison estava lançando um aparelho que registrava e reproduzia sons por intermédio de cilindros giratórios. Fascinado pela novidade, adquiriu um desses equipamentos e vários rolos de gravação, embarcando com sua preciosa carga em um navio rumo a Belém do Pará, sem conhecer uma única palavra do Português. Naquela cidade, começou a exibir a novidade para o público, que pagava para registrar e escutar a própria voz. O sucesso foi imediato e, de Belém, Fred se dirigiu para outras praças, sempre com o gravador a tiracolo. No Rio de Janeiro, Figner abriu sua primeira loja, a Casa Edison, onde importava e comercializou os primeiros fonógrafos. Pouco depois abriu o primeiro estúdio de gravação e varejo de discos do Brasil (1900). Tornou-se espirita, trabalhou incessantemente na Federação Espírita Brasileira e quando faleceu, aos 80 anos de idade, ao se abrir seu testamento, verificou-se que Fred Figner havia destinado parte substancial dos seus bens às obras sociais de Chico Xavier.
  2. Thomas Edison (1847-1931) foi um dos maiores inventores da humanidade, com 1033 patentes. Com onze anos tinha um laboratório no porão de casa. Com 12 anos, após várias experiências construiu um telégrafo rudimentar. Na juventude, pobre e surdo, acabou por fim arranjando um emprego, onde dormia no porão. Trabalhando vinte horas por dia e economizando conseguiu, em parceria com um amigo, montar uma firma de engenharia eletrotécnica. Foi quando inventou o telégrafo e patenteou a máquina de escrever, aperfeiçoou o microfone e ajudou a por em prática o telefone inventado por Graham Bell. Em 1877 inventa o fonógrafo, aparelho que reproduzia o som e que evoluiu para o toca discos. Seu invento mais importante seria a lâmpada elétrica.
  3. DELFOS foi o pseudônimo de Huberto Rohden (1893-1981), escritor, e teólogo catarinense, radicado em São Paulo. Precursor do espiritualismo universalista defendia a harmonia cósmica e a cosmocracia: autogoverno pelas leis éticas universais, conexão do ser humano com a consciência coletiva do universo e florescimento da essência divina do indivíduo, reconhecendo que deve assumir as consequências dos atos e buscar a reforma íntima, sem atribuir à autoridade eclesiástica o poder de eliminar os débitos morais do fiel.
  4. Guglielmo Marconi (1874 — 1937) foi um físico e inventor italiano . Tinha apenas vinte anos, quando transformou o celeiro da casa onde morava em laboratório e estudou os princípios elementares de uma transmissão radiotelegráfica. Vários de seus inventos foram, aparentemente, copiados de outros autores, como Nikola Tesla e mesmo do brasileiro Landell de Moura.
  5. Roberto Landell de Moura (1861 –1928) foi um padre católico, cientista e inventor brasileiro.Sabe-se que sua devoção à ciência e suas ideias avançadas para seu tempo causaram algumas vezes o espanto e a revolta dos católicos, e isso pode ter sido um fator importante na sua incapacidade de desenvolver um trabalho pastoral estável, e ao mesmo tempo seus experimentos ocupavam muito de sua energia e atenção. Landell de Moura é mais conhecido pelo seu pioneirismo na ciência da telecomunicação, tendo desenvolvido uma série de pesquisas e experimentos que o colocam como um dos primeiros a conseguir a transmissão de som e sinais telegráficos sem fio por meio de ondas eletromagnéticas, o que daria origem ao telefone e ao rádio, senão o primeiro de todos, o que ainda é motivo de polêmicas. Teve muitas dificuldades técnicas e financeiras para desenvolver suas pesquisas, trabalhou a maior parte do tempo sozinho e encontrou muita resistência e incredulidade por parte de autoridades e da população, o que impediu que seu reconhecimento em vida fosse mais amplo.

 

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