-“Mãe.... eu quero que você saiba que nós fizemos tudo que
podíamos...”
Ela me olhou estranhando... e continuei. -“Mas você tem
uma doença grave...”
Ela, calmamente: -“Qual?”
-“Um tumor...”
Ela: -“Onde?”
-“No pulmão...”
Parou um pouco, e prosseguiu tranqüila: -“Eu vou morrer?”
-“Não, mãezinha... não vai. Porque ninguém morre... a
gente continua vivendo do Outro Lado...”
Ela: -“Quanto tempo eu terei falta de ar?”
-“Pouco. Você vai dormir...”
Ela: -“E não vou acordar mais?”
-“Vai... só que não deste Lado...”
Ela: -“Acho que estou com medo...”
-“Não tenha mãe... não tenha. Um dia todos nós vamos nos
reencontrar... você vai esperar por nós...”
Ela: -“E o papai?”
-“Não sabe de nada... como você nunca soube...”
Ela: -“E o Oswaldinho...?” (meu irmão).
-“Ele sempre soube... como eu sabia...”
Ela: -“E os médicos não sabiam?”
-“Sabiam mãe... mas eu pedia para que mentissem... pra te
proteger...”
As lágrimas desciam no meu rosto diante de tanta força e
calma dela.
Ela: -“Não chora, filha ...” E continuou: -“Eu não queria
deixar vocês...”
-“Nem nós queríamos que fosse assim, mãe!...”
Ela: -“Seu pai não vai agüentar muito tempo...”
-“Nós sabemos... ele vai atrás de você...” (e procurei rir da
piadinha sem graça...)
E numa lucidez indecifrável completou:
Ela: -“Preciso pedir pro Carlos cuidar de você... senão venho puxar o
pé dele!” brincou...
Eu ri...
Ela: -“Você já trouxe a minha roupa?” (pro enterro!)
-“Não se preocupa com isso, mãezinha...”
Ela: -“Junta minhas roupas e dá para quem possa aproveitar... e fica
com minhas plantas... cuida delas...”
-“Tá, fica tranqüila, cuidarei sim. Vou plantar no meu jardim...e
cuidar como você sempre cuidou...”
Ela: -“E cuida de seu pai...”
Nesse momento eu sai chorando do quarto e fui autorizar os médicos a
iniciarem a sedação.
Ela iria adormecer para não mais acordar.
E em poucos minutos ela cerrou os olhos... e aguardamos que seu
coraçãozinho parasse, várias horas depois...